ÉTICA EM SÃO TOMÁS DE AQUINO
S.
Tomás de Aquino separou a teologia da filosofia através do seu sistema tomista. A teologia de Aquino é bastante
complexa e por isso seria fastidioso inclui-la num postal generalista. O que
mais me atrai em Aquino é a sua filosofia, e desta, a ética e a estética; é
disto que vou falar comparando esses conceitos de Aquino com a cultura
contemporânea. Antes de entrar no tema, é de notar que Aquino considerava a monarquia
como o sistema político ideal, por ser o que mais se parece com o próprio
governo divino do mundo. Não podia de fazer notar a minha concordância.
Na sua ética, S. Tomás de Aquino parte do princípio
da existência de Deus, porque nenhuma ética é possível sem uma metafísica
qualquer; aliás, este é o grande problema ético dos ateístas, e a necessidade
da transformação do ateísmo emnaturalismo reflecte a necessidade ética de uma “metafísica”, o
que na prática significa “religião”.
S. Tomás de Aquino parte da lógica sustentada da
liberdade do ser humano ― o livre arbítrio ― o que para mim é ideia agradável.
O ser humano é livre; Deus não lhe tolheu a liberdade. O ordenamento finalista
do universo não elimina nem diminui a liberdade do Homem.
O Mal e o Bem
O mal é a ausência do bem, isto é, o mal não é
substancial. Neste aspecto, S. Tomás de Aquino segue S. Agostinho na teoria da
não-substancialidade do mal, em confronto com as ideias de Mani (maniqueísmo).
Também esta ideia é-me agradável; o mal não é intrínseco ao ser humano senão na
sua condição de ignorância ou ausência de sabedoria, da mesma forma que o mal é
a ausência do bem.
S. Tomás de Aquino existem duas espécies de “mal”: a “pena” e a “culpa”. A “pena” tem em Aquino um significado parecido no Budismo com o de Kharma; a “pena” é a deficiência da forma ou de uma das suas partes, necessária para a integridade de algo. A “culpa” é, dos males, o maior ― que a providência tenta corrigir ou eliminar com a “pena”. Para S. Tomás de Aquino, só lhe faltava reconhecer a reencarnação para transformar a “pena” em Kharma e a “culpa” em Samsara.
S. Tomás de Aquino existem duas espécies de “mal”: a “pena” e a “culpa”. A “pena” tem em Aquino um significado parecido no Budismo com o de Kharma; a “pena” é a deficiência da forma ou de uma das suas partes, necessária para a integridade de algo. A “culpa” é, dos males, o maior ― que a providência tenta corrigir ou eliminar com a “pena”. Para S. Tomás de Aquino, só lhe faltava reconhecer a reencarnação para transformar a “pena” em Kharma e a “culpa” em Samsara.
Para S. Tomás de Aquino, a “culpa” é o acto humano
de escolha deliberada do mal; a “culpa” não é inconsciente: o ser humano com
culpa sabe que a tem, através da “consciência”. Contudo, o ser humano é dotado
de capacidade para distinguir o Bem, e naturalmente tende para ele; assim como
o ser humano tem uma aptidão natural para entender os princípios da ciência,
essa mesma aptidão serve também para o ser humano entender os princípios
práticos dos quais dependem as boas acções. Através da sínderese ― que é exactamente essa aptidão prática que permite
ao Homem distinguir o Bem — o ser humano tende a rejeitar a ausência de Bem.
Ao contrário do que defende o naturalismo ateísta
contemporâneo, S. Tomás de Aquino distingue a liberdade do ser humano da falta
de liberdade do resto da natureza. As potências naturais (as faculdades naturais) não têm possibilidade de
escolha nem têm liberdade; agem de um modo constante e infalível como agem os
agentes que a Física ou a Química observam. Contudo, as potências racionais podem agir em vários sentidos segundo livre
escolha. O habitus, segundo S. Tomás de Aquino, é a predisposição
humana que é constante, mas não necessária ou infalível, de escolher em
determinado sentido ― o habitus é a tendência de comportamento de um ser humano em
particular, em pleno exercício da sua liberdade, ou de uma sociedade
determinada, em geral.
S. Tomás de Aquino aceita a distinção aristotélica
entre “virtudes intelectuais” e “virtudes morais”, sendo que estas últimas são
a justiça, a temperança, a prudência e a fortaleza. As virtudes intelectuais e
as virtudes morais são virtudes humanas que conduzem o ser humano à felicidade
que o Homem pode conseguir nesta vida com as suas próprias forças naturais. Mas
para além destas, o Homem dispõe das “virtudes teologais” directamente
infundidas por Deus: a fé, a esperança e a caridade.
A Lei Natural
Em toda a ética de S. Tomás de Aquino está presente
o direito natural (jusnaturalismo). Existe
uma lei eterna ― uma lei que governa todo o universo e que existe
na lógica do surgimento desse universo. A lei natural que existe no Homem é um
reflexo (ou uma “participação”) dessa lei eterna que rege o universo.
A lei natural tem três características
fundamentais:
1.
A
inclinação para o bem natural.
A auto-conservação do Homem ― como a de qualquer ser vivo ― é uma revelação
desta primeira característica. Por isso, o aborto e o suicídio (eutanásia) vão
contra a lei natural.
2.
A
inclinação especial para determinados actos,
que são os que a natureza ensinou a todos os animais, como a união do macho e
da fêmea, a educação dos filhos e outros semelhantes. Por isso, o comportamento
e a cultura “gay” vai contra a lei natural.
3.
A
inclinação para o Bem segundo a natureza racional que
é própria do Homem, como é a inclinação para conhecer a Verdade, a
sociabilidade, a cultura, a tradição, etc.
A estética
O belo, segundo S. Tomás de Aquino, é um aspecto ou
uma característica do Bem. O belo é idêntico ao Bem, sendo que o Bem é aquilo
que todos desejam e, portanto, é a própria teleologia (o Fim). O belo também é desejado,
e portanto tem um valor teleológico. Porém, ao contrário do Bem, o belo só se
refere aos sentidos (faculdade cognoscitiva) ― visão, audição ― e à consciência
das coisas (que inclui outros sentidos: o tacto, o olfacto, o gosto). Portanto,
a beleza só se refere aos sentidos que têm maior valor cognoscitivo e que
servem a Razão. O que agrada na beleza não é o objecto em si, mas a apreensão do objecto.
S. Tomás de Aquino atribui ao “belo” três
características essenciais:
- A integridade da perfeição. Tudo o que é reduzido ou incompleto é feio.
- A proporção das partes; a clareza. Esta
característica aplica-se não só nas coisas sensíveis (arte em geral) mas
também nas coisas do espírito. Um corpo proporcionado é belo assim como um
discurso ou uma acção bem proporcionada tem a clareza espiritual da razão.
- A verdade da beleza. O belo existe mesmo que represente um objecto
feio.
REFERÊNCIA: